segunda-feira, 28 de maio de 2012

A Igreja e a Renovação Carismática

O que é o movimento da renovação carismática? Será um movimento herético de abandono à liturgia? Será um movimento realmente inspirado pelo Espírito Santo? Acaso estamos caindo em uma ruptura com a Igreja?

Qual deve ser a posição doutrinal de um católico diante deste movimento e de suas práticas?
Façamos um breve e resumido estudo para termos bases para solucionar estas confusões.

Procurando sempre seguir o Sagrado Magistério.

Magistério da Igreja

Todos os papas aprovaram a RCC (Renovação Carismática Católica). No livro: "Os Papas falam sobre a Renovação Carismática Católica" (Loyola, 1982), vemos claramente a posição da Igreja sobre o assunto.

Em 10 de outubro de 1973, o Papa Paulo VI dirigiu-se aos dirigentes da Renovação, reunidos em Roma por ocasião da I Conferência Internacional de Líderes:
"Alegramo-nos convosco, queridos amigos pela renovação espiritual que se manifesta hoje em dia na Igreja, sob diferentes formas e em diversos ambientes. Certas notas comuns aparecem nesta renovação:
- O gosto por uma oração profunda, pessoal e comunitária a Deus;
- Um retorno à contemplação e uma ênfase no louvor a Deus;
- O desejo de entregar-se totalmente a Cristo;
- Uma grande disponibilidade às inspirações do Espírito Santo;
- Uma leitura mais assídua da Bíblia;
- Um amor fraterno mais generoso;
- A vontade de prestar uma colaboração aos serviços da Igreja.
Em tudo isso podemos conhecer a obra misteriosa e discreta do Espírito que é alma da Igreja".
Com estas palavras do Papa Paulo VI, a RCC se torna reconhecida pelo magistério da Igreja, e portanto atestado pelo papa como um movimento inspirado pelo Espírito Santo. Com isso nós católicos ao sermos fiéis ao magistério da Igreja não podemos considerar a RCC uma heresia ou algo contrário ao magistério.

O que a renovação representa para a Igreja? Qual sua contribuição?

A renovação como podemos ver na declaração de Paulo VI nos vem trazer valores esquecido da Igreja. Podemos afirmar que os valores que foram resgatados são a ação do Espírito Santo através do homem e da Igreja, a oração, e a valorização do Santíssimo Sacramento. Também observo uma certa missionariedade dos católicos deste movimento ao anunciar sem medo e vergonha Jesus no trabalho, casa, círculos de amigo e demais locais (algo que foi muito afrouxado no decorrer do tempo).

Nestes tempos secularizados e céticos, a RCC vem nos lembrar através dos carismas e dons, que o Espírito Santo age através de nós e em nós, como em toda a história da Igreja agiu. Interessante que este fenômeno surge justamente quando nosso mundo mais promove o ateísmo e a dúvida sobre a existência e ação de Deus no mundo e delega Deus à um conforto psicológico. Mas o Espírito age através de sinais e prodígios.

Eucaristia

Há muito tempo a adoração eucarística havia sido deixado de lado, de fato, hoje não se vê comumente mais vigílias, momentos de exposição do Santíssimo em muitas paróquias. Interessante lembrar que adoração eucarística não é e nunca foi algo da renovação somente, mas de fato em 2000 anos e Igreja sempre o fez com muita devoção e zelo, em especial os santos, porém nos últimos tempos a adoração eucarística perdeu muito a importância e por que não nos remetermos ao fato de que os próprios católicos no geral não se lembram mais que a Eucaristia é o fundamento da Igreja e nem dão importância para ela. Com esse cenário a renovação nos traz uma forte exortação à adoração eucarística e à presença do Jesus Eucarístico.

Oração

Outra dimensão esquecida que a renovação vem nos lembrar é justamente à prática da oração frequente. Vale destacar aqui a oração para que sejamos guiados em nossas vidas pelo Espírito Santo (nos comunicarmos com Deus diariamente) e a oração para intervenção divina (contra o mal, a tentação e para discernimento), embora essa intervenção divina não necessariamente precise se manisfestar de maneira sobrenatural.

A ação do mal

Hoje em dia as pessoas se esquecem ou rebaixam demais a ação de Satanás e seus demônios, e muitas vezes se esquecem do inferno. O movimento da RCC nos vem com sua pregação nos lembrar isso. Porém vale ressaltar que há abusos e desvios onde se superpotencializa o mal e o coloca como algo poderoso demais esquecendo que Jesus venceu o mal na cruz ou ainda eximindo o homem de sua culpa onde o demônio é o pecador e não o homem (caindo em um pensamento gnóstico do mundo). Com isso devemos ter um equilíbrio, não nos esqueçamos que Satanás age no mundo contra os cristãos e nos suscita e aconselha o pecado a todo o instante e portanto sua ação existe sem a menor dúvida, porém não nos esqueçamos que Jesus, Maria, os santos e os anjos nos protegem do mal e que quem peca não é Satanás, mas nós, ele nos sugere o pecado, mas o ato de pecar é pura e simplesmente nossa opção humana de nos afastarmos de Deus e de seu ensinamento.

Dons carismáticos

Os dons carismáticas (carismas) são dons que o Espírito Santo concede aos fiéis de maneira a edificar a Igreja, portanto todo cristão pode discerní-los de maneira sistemática ao olhar os frutos dos usos destes dons (direcionam para Jesus? Produzem conversões? Evitam idolatrias ou o homem no centro? Não nos aprofundaremos neste tema aqui, mas pelos frutos saberemos se os dons realmente são ação do Espírito ou meramente do humano).

Os principais carismas (dons carismáticos) são apresentados por São Paulo em 1 Co 12, 4-11, porém é insensato afirmar que estes são os únicos dons, pois vemos na história da Igreja claramente que existem outras manifestações carismáticas (carismáticas quer dizer que servem para a salvação dos outros e não nossa), podemos por exemplo tomar São Pio de Petrielcina como exemplo de manifestações carismáticas.

Não entraremos nas questões de abusos ou veracidade dos dons aqui.

O que devo pensar de tudo isso?

Com isso, a renovação vem suscitar em nossa Igreja a retomada de grandes riquezas de nossa Igreja esquecidas ou colocadas em segundo plano. Portanto é sensato e saudável todo católico reconhecer, pautado na afirmação de nosso Magistério da Igreja e do Papa, a inspiração do Espírito Santo dentro da RCC e extrair da espiritualidade dela os bons frutos.

Negar o valor da RCC para a edificação da Igreja é portanto uma situação de desinformação sobre os ensinamentos do Magistério da Igreja.

Com isso sou obrigado a participar de encontros de grupo de oração ou eventos carismáticos? NÃO! Ninguém é obrigado a participar de uma espiritualidade específica, mesmo porque sabemos que muitas pessoas não tem maturidade espiritual para lidar com os dons carismáticos e as vezes se assustam com eles. Porém nós cristãos e principalmente jovens que estamos no caminho de conhecimento de nossa Santa Igreja devemos combater a desinformação e conhecermos estas coisas para esclarecermos às outras pessoas evitando o erro, difamação, má-interpretação e abusos.

Como comparação podemos comparar a RCC com a Opus Dei. Uma valoriza a ação do Espírito Santo através dos dons e da oração (carismas) e outra valoriza o trabalho diário como ação de Deus. Ambos movimentos reconhecidos pelo Magistério e ambos suscitam frutos de conversão e glorificação de Deus. Cada espiritualidade enaltece um aspecto da fé católica.

Abusos

Claro que como tudo na RCC tem gente abusando das coisas, mas vale ressaltar que são pessoas problemáticas e não o movimento da RCC. Infelizmente nos deparamos com abusos e desvios doutrinais. Para citar temos falsas profecias (pregadores ensaiando sozinhos o que vão profetizar), temos destruição litúrgica ("missas carismáticas"), uma supervalorização do extraordinário (Deus só age se há manifestações de dons e não no natural) e um emocionalismo (Deus só age se eu me emocionar, senão não tenho fé). Façamos um breve esclarecimento sobre estes tópicos.

Falsas profecias: Há falsas manifestações de dons ou teatros, porém isso não nos deve nos tornar descrentes e rebaixar tudo à mentira. Por isso devemos discernir os dons e manifestações do Espírito, como por exemplo pelo dom de discernimento dos espíritos e pelo discernimento ordinário (análise dos frutos que aquele dom gerou).

Destruição litúrgica: Há hoje em dia "missas carismáticas", ou seja, se fazem missas onde a manifestação carismática é o centro da missa. Isso é terminantemente probido pelo Magistério da Igreja e, interessante, também pelo próprio movimento da RCC. Pois a RCC está ciente que ela não define liturgia, simplesmente aceita pois foi dada pelo Magistério da Igreja. Porém vale uma atenção especial aqui, é possível que o padre deseje fazer a procisssão do Santíssimo após a missa, nisso não há destruição litúrgica nenhuma pois a missa já foi concluída (graças à Deus temos um exemplo muito saudável em nossa paróquia onde o padre faz a procissão após o término da missa respeitando a Sagrada Liturgia).

Supervalorização do extraordinário: Afirmar que Deus só age onde há manifestações dos dons é um tremendo erro, porque Ele age sim no cotidiano e no ordinário (as vezes o sinal do caminho que devemos tomar não chega por uma visão, mas sim pela palavra de um amigo). Outro erro é quem manifesta os dons se dizer espiritualmente mais maduro que quem não manifesta, outra mentira, pois a maturidade espiritual e proximidade de Deus nada tem a ver com dons carismáticos (estes servem para aproximar os outros de Deus, é um serviço ao outro), pode muito bem os dons carismáticos serem manifestados por pessoas de baixa maturidade espiritual (vide manifestações carismáticas protestantes, as vezes há manifestações, outras vezes é fingimento, e eles estão em heresia, mas mesmo assim o Espírito sucita dons para chamá-los à Cristo e à Igreja Católica). Há de se cuidar para não cairmos no montanismo e pensarmos que por manifestarmos carismas ou conhecermos coisas espirituais venhamos a nos considerar melhor preparados/conhecedores que outros sobre os mais diversos temas.

Emocionalismo: Os dons carismáticos por constituirem muitas vezes fenômenos extraordinários tende a nos emocionar/chocar num primeiro contato, porém não podemos nos deixar levar pelas emoções e buscá-los somente para prazer emocional. Outro problema se dá quando ao termos contatos frequentes com dons carismáticos (por participar de grupos de orações, etc) não mais nos emocionamos facilmente e caímos na idéia de que perdemos a fé em Deus, muito pelo contrário, nós amadurecemos e vencido o "romance" (visão apaixonada dos dons carismáticos) conseguimos discerní-los melhor e sermos mais resistentes à colocar o prazer emocional como centro e a receber frutos melhores ainda. Há de se cuidar também nas pregações para que não seja feito apenas apelos emocionais que promovem muitas lágrimas e poucas conversões. A pregação acima de tudo deve ter conteúdo católico e pautado na Palavra de Deus e Magistério da Igreja.

Conclusão

Com tudo o que foi dito, percebemos que o movimento não é contra o Magistério da Igreja e nem é inimigo de ninguém, porém há muitos abusos (nota: assim como em toda e qualquer coisa na Igreja, mesmo na liturgia, mesmo nos sacramentos, mesmo em qualquer lugar o homem tem tendência a querer colocar suas vontades no centro, acima do Magistério, e isso precisa ser combatido). Não nos aprofudamos nos dons, nos detalhes do discernimento e em outras questões mais profundas pois seria muito extenso para uma postagem, deixemos para outro momento. Qualquer dúvida, contribuição ou curiosidade estamos abertos à comentários.

Não caiamos no tradicionalismo excessivo ao afirmar que a RCC é contra a Igreja ou a rejeitá-la, mas não caiamos também na supervalorização do movimento como se a Igreja agora deve-se utilizar a RCC como centro ao invés de a RCC ter a Igreja toda como centro.

Saiba Mais

A Igreja e a Renovação Carismática O que é o movimento da renovação carismática? Será um movimento herético de abandono à liturgia? Será um movimento realmente inspirado pelo Espírito Santo? Acaso estamos caindo em uma ruptura com a Igreja? Sagrado Coração da Salete Sagrado Coração da Salete, grupo de jovens, igreja católica

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